Milk, toast and honey, ain't it funny...Ela passa a mão pelos cabelos e conta as bitucas de cigarro no cizeiro e pensa em quantos canecas de café já tomou. Os olhos vão até a folha em branco enquanto gira a caneta entre os dedos. Não há idéia nenhuma na cabeça e um aperto no coração. As coisas não estão bem. Pega a agenda de telefones e pensa em ligar pra alguém, em tomar umas cervejas, em ver gente e em como seria bom ter alguém pra dividir tudo. As contas, a pasta de dentes, o chuveiro, o travesseiro, a vida. Quer andar de mãos dadas, quer sentir o cheiro nos lençóis e falar sobre amenidades, ter uma crise de ciúmes infundada e chorar num colo até dormir, ainda soluçando.
Sente saudades, cansaço, solidão, sono, tristeza. Sonha com uma vida diferente e se pergunta onde foi mesmo que se perdeu de si mesma. Sacode a cabeça para espantar os maus pensamentos e reunir forças para terminar a tarefas, afinal, precisa pagar as contas, comer e garantir uma ou outra bebidinha, para desopilar. E os cigarros, tem que pagar os cigarros. Nenhuma idéia naquela noite. Não consegue pensar em nada produtivo há tanto tempo que nem se lembra mais. Gostaria de saber quando foi mesmo que foi engolida pelo sistema e desistiu da vida boêmia com que sonhara, de todo o romance que imaginava dentro de sua cabeça nos tempos de colégio e faculdade. Sentia falta de toda a alegria daquele tempo, da ausência de preocupações, da leveza que a vida universitária proporcionou. Dos porres, das festas, das noites cheias de etílicos misturados na casa de algum amigo que morava sozinho e sempre terminava com um monte de jovens dormindo pelo chão. Um sorriso passa rápido pela boca e ela vai pro computador. Acende outro cigarro, mais gole no café e os dedos passeiam pelas teclas. Não era a inspiração, era só uma conversa pelo MSN, o word continua aberto e nenhuma letra está escrita lá.
Ela olha o branco da tela com tristeza e pensa que será uma longa noite. Mais uma.
Greta Garbo, quem diria, foi parar no Irajá as 6:57 PM